sexta-feira, 1 de março de 2013

Afetos rompidos

“... Na minha angústia eu buscava a paisagem calma que me havias dado tanto tempo... Depois foi o sono, o escuro, a morte. Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente. Vinha cheio de pavor das tuas entranhas...” (Agonia, Vinícius de Moraes).


“O corpo de tal modo nos inunda de amores, paixões, temores, imaginações de toda a sorte, enfim, uma infinidade de bagatelas, que por seu intermédio não recebemos na verdade nenhum pensamento sensato; não, nem sequer um!” (Platão, Fédon).

“... DIOTIMA: Não talvez, mas seguramente o é. E sabes qual é a importância da procriação? É que representa algo que perdura: é, para o mortal, a imortalidade. Ora, segundo vimos há pouco, o desejo de imortalidade é inseparável do desejo do bem, pois que o amor consiste no desejo da posse perpétua do bem; donde resulta que o amor é também o desejo de imortalidade...” (Platão, O Banquete).

Vinícius traz, com a ajuda das palavras que grifei propositalmente, uma mensagem de ruptura de uma sensação de paz e aconchego anteriormente sentida enquanto ainda estava nas entranhas do outro ser. Platão fala das sensações corpóreas sentidas a partir dos também termos grifados e em seguida cita a insensatez do pensamento. Como cita nobre de melo, o aspecto afetivo da vida psíquica abrange vasto domínio da atividade pessoal e vai além ao escrever em sua obra que a afetividade exerce importante papel no que toca ao problema das correlações psicossomáticas básicas, e completa que há que insistir que a afetividade penetra todos os demais aspectos da vida psíquica influenciando decisivamente a percepção, a memória, o pensamento e a vontade. Sabemos, no entanto, do problema da causalidade em psicopatologia, falando em questões filosóficas e científicas entramos numa questão complexa de estabelecer com segurança relações de causalidade entre diversos eventos e fenômenos. O que podemos fazer é deduzir, observar, conduzir estudos e, principalmente, aprender com a fonte que considerei de melhor valia no aprendizado ao longo da minha formação: os próprios pacientes. É preciso ter cuidado para não confundir mecanismos funcionais e psicológicos envolvidos em determinado transtorno mental com a causa propriamente dita, para melhor explicação dessa associação precisaria me aprofundar nas teorias do dualismo paralelista, epifenomenista, interacionista, materialista, eliminativo, e espiritualista.

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