terça-feira, 25 de dezembro de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

Sexo sem coração é pecado. Sexo é sagrado.


“Prezado coleccionador:

Detestamo-lo. O sexo perde todo o seu poder, toda a sua magia, quando se torna explícito, abusivo, quando se torna mecanicamente obcecante. Passa a ser enfadonho.

Nunca conheci pessoa que melhor provasse o erro que é não se lhe juntar a emoção, a fome, o desejo, a luxúria, os caprichos, as manias, os laços pessoais, relações mais profundas, que lhe mudam a cor, o perfume, os ritmos, a intensidade.

Nem o senhor sabe o quanto perde com esse seu exame microscópico da actividade sexual e a exclusão dos outros aspectos, que são o combustível que a faz atear. Intelectual, imaginativo, romântico, emocional. Eis o que dá ao sexo as suas surpreendentes texturas, as mudanças subtis, os elementos afrodisíacos. O senhor restringe o seu mundo de sensações. Disseca-o, definha-o, tira-lhe o sangue.

Se o senhor alimentasse a sua vida sexual com todas as aventuras e excitações que o amor instila a sensualidade, seria o homem mais poderoso do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, é a paixão. O que o senhor vê é sua débil chama a morrer de asfixia. O sexo não pode medrar na monotonia. Sem invenções, humores, sentimentos, não há surpresa na cama. O sexo deve ter à mistura lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao estrangeiro, novas caras, romances, historias, sonhos, fantasias, musica, dança, ópio, vinho. O que o senhor perde com esse periscópio na ponta do sexo, quando podia gozar de um harém de maravilhas várias e jamais repetidas! Não há dois cabelos iguais; mas o senhor não quer que desperdicemos palavras a descrever uns cabelos. Não há dois cheiros iguais; porém, se nós nos detemos com isso, o senhor exclama: “Suprimam a poesia.” Não há duas peles de igual textura; nunca é a mesma luz, a mesma temperatura, as mesmas sombras, nunca são os mesmos gestos; porque um amante, quando animado do verdadeiro amor, é capaz de vencer séculos e séculos de ciência amorosa. Quantas mudanças de tempo, quantas variações de maturidade e de inocência, de arte e de perversidade…

Discutimos até à exaustão para saber como seria o senhor. Se fechou os sentidos à seda, à luz, à cor, ao cheiro, ao carácter, ao temperamento, deve estar nesta altura totalmente empedernido. Há tantos sentidos menores que se lançam como afluentes no rio do sexo!

Só o bater em uníssono do sexo e do coração pode provocar o êxtase."

Anaïs Nin, 1941

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O pecado da minha geração.

  É essa a lamentação que mais escuto dos amigos entre 20-30: estão se relacionando com um ser incomunicável, indecifrável, idiossincrásico. Vejo muito mais uma era de relacionamentos com desenho do espectro autista do que narcisista. Pelo menos na geração em que estou mergulhada. Interação social comprometida, linguagem comprometida e algumas estereotipias que a gente vê e não entende muito bem.
Nascer autista obviamente não tem nada de pecado, mas construir uma máscara com características muito parecidas com os três elementos necessários pra se chegar ao diagnóstico do autismo é pior que pecado, é uma punição a si próprio e não  Deus algum, foge do tema dos "sagrados pecados". É um pecado por ser triste, triste deixar de lado tantas possibilidades que poderiam ser e não foram. Por que isso está acontecendo tanto? Não sei. Dói ver uma geração deixando de lado a ousadia e a coragem de se entrelaçar sem tantos medos e pavores do outro que chama pelo desejo e pela possibilidade de amar de fato. Impossível conhecer uma alma dia a dia e se encantar por ela se a mesma insiste em querer brincar de ser autista. É isso, brincar de ser autista sim é um pecado, e não vejo nada de sagrado.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mais uma dose, é claro que eu tô afim.

  Não adianta dizer que futuro e passado só existem no calendário.O presente está contaminado por ambos,e o que some mesmo quando estamos desencantados, melancólicos ou na iminência de buscar mais uma dose é o encantamento daquele segundo, espaço congelado no tempo subjetivo do homem. Não some a sensação de sentido da vida. A vida não tem sentido mesmo e, justamente por saber disso é que o desencantado busca mais uma dose, porque é claro que ele está afim...do encanto do agora! Agora este contaminado pela própria existência cheia de barreiras e limitações que chocam com o que talvez sonhe o homem que busca um estado de excitação.
  É preciso um desumano estado para um hoje branco, puro e descontaminado, é preciso não ter culpas do que já foi feito ou pior, do que não foi mas deveria ter sido feito no passado, é preciso carregar um peito que não conhece angústias, é preciso esperanças de pequenos ou grandes prazeres no segundo seguinte, no dia seguinte ou no ano que vem. Sempre carregamos pequenos lixos psíquicos, sempre carregamos pequenas luzes sorridentes de um amanhã melhor. É preciso uma pureza infantil ausente de história e constante curiosidade com o presente para suportar e entender o que é viver em constante encantamento com o cotidiano. Doses de curiosidade ou doses de amanhã é dia, doses de ontem valeu a pena, também são doses, e doses essenciais. 
  O pecado de hoje é a dose. Que dose você vai tomar por hoje? Eu escolhi uma e a observo com prazer cheia de ontem e de amanhã, reflito: As bolhas sobem como espermatozóides em festa pelo copo, será que não sabem que estão em um canal sim, mas de um copo, não de um corpo? Elas não se importam com isso e tocam sutilmente minha boca e embriago-me de sonhos após sentir seu gosto com notas das videiras sei lá de onde, em outras palavras, o pecado de hoje foi uma dose, de espumante.